segunda-feira, 27 de abril de 2009

«Por que subscrevi o Apelo à Convergência de Esquerda para Lisboa?»

À Esquerda Uma Lisboa Multicultural e Mestiça

Em Julho de 1991 organizou-se o "Fórum pensar Lisboa 94" que teve como tema a”A Lisboa que faz a Cultura pensar”, onde o eixo central da reflexão se centrou na Lisboa como Capital da Multiculturalidade. Passados 18 anos deste fórum organizado no contexto da FAUL do partido Socialista na altura dirigida por António Costa, esta Lisboa Multicultural e Mestiça continua sem ter uma estratégia cultural clara, continua sem uma marca que a afirme no contexto internacional.
E esta incapacidade é contraditória com o facto de:
- falarmos uma língua que sendo, ao nível europeu, a terceira mais falada no mundo, tornando Portugal num parceiro activo na construção de uma Europa das Línguas e das Culturas, na construção de uma identidade europeia capaz de se afirmar no contexto mundial. Se é essa língua que transporta a memória da revolução do conhecimento que provocámos na Europa nos finais do século XV, inícios de XVI.
- termos relações de cumplicidade com regiões e culturas estratégicas do mundo, como se viu em 2008 na comemoração de duas efemérides ligadas à vida de dois portugueses, os padres Tomás Pereira, que viveu na China e foi astrónomo e músico, e António Vieira, cujas comemorações dos 400 anos do seu nascimento se prolongam, a pedido do Brasil, até meados de 2009.
- sermos a primeira aldeia global, o pioneiro da globalização, criando condições para que tivesse acontecido uma verdadeira revolução do conhecimento ao nível da Europa.
- termos tido a capacidade, apesar da memória da escravatura e do tráfico negreiro e, mais tarde, da guerra colonial, de se misturar com outros povos e culturas, contribuindo para a criação de sociedades multiculturais e mestiças, possíveis modelos do que podem vir a ser as sociedades do futuro.
De facto há que perguntar porque é que não se potencia esta memória e esta relação estratégica com o mundo para afirmar Lisboa como uma Plataforma Cultural da Mestiçagem e da Multiculturalidade, porque é não se invista numa dimensão cultural que seja capaz de concretizar a possibilidade de ter em português um olhar e uma ideia sobre o mundo e de mostrar que esse olhar, tal como aconteceu em 1500, pode contribuir para ajudar a inventar os futuros possíveis, um mundo diferente.
Uma dimensão que implicaria trabalhar sobre um outro quadro de referência, com uma outra ideia de cultura que seja, ao mesmo tempo, memória e tradição, o cimento que suporta toda a estrutura social e lhe dá identidade, e o G.P.S. que nos ajuda a criar condições para a descoberta e a invenção das múltiplas saídas para a crise. Um quadro de intervenção cultural onde todos aqueles que experimentam e criam o novo têm um lugar privilegiado, sejam artistas, cientistas, arquitectos, filósofos, urbanistas ou romancistas, onde as redes internacionais serão não redes sectoriais mas redes do conhecimento e de criação do novo, do futuro.
Um projecto cultural que deveria estruturar-se em quatro direcções complementares:
1 - Como espaço de encontro e troca de projectos com criadores e estruturas europeias de inovação, projectos que acolham no seu seio a diversidade cultural e linguística europeia, onde a nova Europa se possa experimentar. Nesta dimensão europeia deveriam privilegiar-se duas alianças estratégicas: com a Espanha, no quadro da realidade Ibero-Americana pois os falantes de Português e de Castelhano representam um universo de 650 milhões em todo o mundo; com a França pois há muitas semelhanças e interesses comuns entre os projectos da lusofonia e da francofonia;
2 Como ponte de colaboração com projectos e práticas de referência, tanto ao nível do Brasil, como da África Lusófona, tornando perceptível a importância estratégica dessa colaboração para a construção de uma Europa que, sendo hoje um mosaico de múltiplas realidades, tem uma efectiva dificuldade de as integrar devido ao pouco conhecimento que, na sua globalidade, tem desta realidade multicultural e mestiça;
3 - Com a diáspora que fala e pensa em português, uma dimensão que permite ter em todo o mundo gente que pode, não só projectar o nosso país no contexto internacional, mas acima de tudo alimentar o modo de olhar em português sobre o mundo multicultural e mestiço em que vivemos;
4 - Finalmente uma quarta que perspectiva Portugal como um país privilegiado no diálogo com os países emergentes, nomeadamente a China, a Índia e, por maioria de razão, o Brasil, tendo em conta todo o passado histórico e as redes de cumplicidades que se foram criando ao longo dos tempos e que é urgente reavivar.
É porque acredito que a esquerda é capaz de apostar num projecto desta dimensão que assinei esta petição.
Carlos Fragateiro

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